domingo, 8 de agosto de 2010

Para a Poesia não há mais lugar neste mundo

João Victor me disse que faria sexo, ou melhor, amor, segundo suas palavras, com sua namorada pela primeira vez. Disse também que ficara a imaginar, na tão esperada noite, uma vagina de flores, talvez de ramagens selvagens, deflorada apenas por sua própria virgindade, desenhada por uma arranhadura de espinho; completou seu devaneio com um cenário onírico de velas e aroma de rosas e discursou algo acerca de dois corpos estendidos sobre uma cama onde, por uma hora ou um pouco menos, o amor se fez tão concreto que os dois corpos dissolveram-se mutuamente e, como num quadro surrealista, consumiram-se a si próprios numa espécie de estupor angelical.
Algum tempo depois, encontrei João Victor, que me revelou alguns segredos descobertos naquela noite. Segundo ele, todo o concerto que compusera em seus sonhos não tocou, e sua amada, representando todas as mulheres, era de carne. Isso, carne. Apenas carne. Falou-me que a vagina não era nada além de um buraco coberto por sucessivas camadas de carne e pele e que não servia, no sentido mais lírico e imaginativo, para nada que não fosse ornamento da arquitetura feminina.
Hoje soube que João Victor faz das tripas coração para ver sua namorada todos os dias e fazer sexo – sim, foi essa a palavra que ele usou – pelo menos duas vezes a cada encontro. Soube também que estava feliz assim, que era melhor mesmo a vagina não ser de flores ou ramagens selvagens e que tivesse aquele cheiro característico que o acordava de sonos-sonhos pueris para explodir de prazer mais uma vez.
João Victor, passando um pouco dos 16, descobriu na prática o que há anos venho supondo e mesmo hoje reluto em acreditar:
Para a Poesia não há mais lugar neste mundo.

3 comentários:

Natália Dino disse...

Mas ora, há sempre lugar pra poesia!

Nem que seja na lixeira!

Paulo César di Linharez disse...

Aquilo não foi um xingamento, foi um comentário sobre o texto.

Eu acredito numa outra poesia, por isso cotidianismo. Mas vendo o teu texto acima, quero tu saibas, algo assim, tu ainda tem um certo lirismo.

Vagina não combina com algumas partes do texto, substituiria por buceta.

MagdaCastro disse...

Gostei do texto.Vc está certo.ninguem ou uma grande maioria, não vê mais nada sobre um olhar poetico, esse está quase em extinção.

http://magdaescreve.blogspot.com/ ( se tiver tempo, da uma olhada.