As lembranças se borram num quadro
onde os dias engolem suas horas
e andam pesadamente, dissolvendo-se,
derramando sobre si mesmos essa acidez
açucarada da qual são compostos.
Da cama os observo, estirado, como
um peixe jogado no concreto, agônico,
insurgentemente resignado. Assisto
com um desespero letárgico à dança
em que gritam e sorriem os momentos
aos quais me entreguei outrora e,
no entanto, sou um mero espectador:
tento tocá-los e estão cada vez mais
distante, como se caminhassem
os meus próprios passos.
E, quando vêm ao meu encontro
num doloroso abraço cheio de
preguiça, eu sinto seu gosto,
seu perfume, e por fim me entrego
a essa vasta solidão que é a minha
memória...
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