Em branco, de pé num movimento elástico de dança, secando os pés na beira de pura água de pura vida, tanto azul envolvendo-a e os cabelos gritando ao contato de estrelas – estou afogado na tua respiração, teus seios enrolados escondem atrás de si o prazer que tu me negas também com as pernas e braços fechados, indicando um caminho contrário ao teu, sugerindo um desvio de ti, do teu corpo que tanto me faz saudade, do teu carinho de mãe no meu cabelo perdido no tempo, nós dois perdidos no tempo e eu nos recordo com os olhos do espectador que não julga e não quer julgar: te quero hoje como sempre quis: muito.
Acordo, meus óculos estão afundados em sal, meus olhos queimam e gemem pela luz inoportuna que invade o quarto, o caos instalou-se por aqui e minhas velas acabaram, deito no chão com o ouvido colado ao assoalho para tentar escutar a respiração do mundo, mas o que há são lojas no andar de baixo, e os barulhos que me sobem e me arrepiam de medo são só a declaração escatológica do capitalismo gordo e desenfreado, vozes que entoam cantos-slogans e corpos que são a propaganda do próprio decadentismo.
O zelador do prédio certa vez me disse que é só um limpador de chão e por isso não iria falar com a garota do 106, pensei por um instante que ela também talvez ache isso e, à tentativa de qualquer espécie de contato, seria repelido com a crueldade da delicadeza que é pertinente ao trejeito de algumas mulheres que se põe acima delas próprias, assumindo uma postura pretensamente endeusada, pisando nossas costelas com seus saltos de quinze centímetros e nos fuzilando com olhares de fogo puro .
Entristeci. O Paraíba é um cara bacana.
Um comentário:
Desconexados até fazer narrativa.
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