sexta-feira, 25 de abril de 2008

Texto pra 50 anos

Eu ando pelo corredor vazio.
De longe avisto a escada. Mais parece um abismo.

Com a vista, eu desconsidero os degraus.
Mas, ao começar a descer, eu posso senti-los.

É uma ligação direta, sem paradas, entre eu e o que está muito abaixo de mim.

Hesito na descida do primeiro e do segundo degrau; cambaleio o terceiro e o quarto; e rolo pelo resto, até cair no chão, sujo.

O medo chega a me embriagar.

Eu levanto caindo e caminho desengonçado.
Ergo a cabeça timidamente, e vejo tudo ao meu redor.

Eu não vejo nada.

Torno a abaixar minha cabeça, como se tentasse me esconder.
Muita coisa acontece.

Nada acontece.

É incrível: aqui embaixo é tudo tão diferente... Eu desaprendi a viver aqui, na base, pois me acostumei com a vida nas alturas.

Tendo como companhia somente as grandes aves; os ventos errantes e corajosos; e um sol, que não é o mesmo daqui. Lá, ele brilha com mais força! Tanta força a ponto de cegar os olhos de quem não está preparado para vê-lo.

Estive por muito tempo bem próximo dele.
Mas, diferente de Ícaros, eu não tenho asas de cera.

Eu tenho...

Na verdade, eu não tenho asas.



[solitude_]

2 comentários:

404 Not Found Again disse...

chega de depressão...

planaltos são melhores ;)

Paulo César di Linharez disse...

Porra cara, esse texto com cara de ja-te-vi de zaratustra

pára com isso, rapaz