quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O tempo está em nossas mãos - um prelúdio roalista

Acordou assim, pulo só, de repente. Suor estranho na testa, frio, incômodo, misto de desespero e surpresa. No criado-mudo, um livro que folheara, restos de maçã que sequer terminara de comer. As pernas, bambas, as mãos trêmulas. Vê-se de jeito diferente, tudo desatinando ao menor movimentar, girando que nem ciranda, fica-se de tanto aturdido, tonto. Levanta e vai ao quarto de mamãe, vai nesse cambaleio meio irresponsável, inebriado. Sento lá onde mamãe e à sua pergunta respondo somente pode não? Beijo-lhe a testa, faço cafuné e volto ao quarto. Que sede. Água no filtro de argila, toma um gole antes que acabe a água do mundo! Essa água tem gosto, pensa, muito boa... Pós, põe copo de suco de caju, geladinho, ajuda a despertar. A tremedeira vai passando aos poucos... Sentado na cama, no quarto, observa à luz da luminária tudinho, mesa, cadeira, meus livros e minha sujeira. A tremedeira vai passando, aos poucos. Calma, vai acalmando, deixando escorregar os sonhos, leve, pela ponta dos dedos. Vou acalmando, vai dormir? Vou dormir não... Fica mais um pouco, acabei de acordar, quero voltar pra cama agora não... Só volto se for contigo, vai não, volta aqui, vou não, decide. Cheguei lá, cigarro apagado no cinzeiro, café preto frio e muito muito vento. Alvoroça os cabelos, olhar distante, cruza os braços confortável, imóvel. Deixa de ser besta, deixa... só deixa, eu deixo. Deixa não? Deixo sim. Dorme lá que os anjos estão tocando suas trombetas, o céu já fecha as suas portas, corre que o trem já vai sair. Corre não, fica. Fica, não vai. Grava o concerto angelical e põe pra tocar quando for pra ir nós, juntos. Gravador em mãos, record, mais tarde play, replay... acalma, o tempo está em nossas mãos.

2 comentários:

Flaviano Menezes disse...

Rômulo, como vai?
visite e colabore com o maranharte.
www.maranharte.blogspot.com
e-mail: maranharte@gmail.com.br

Parabéns pela palestra!

Paulo César di Linharez disse...

Cara, tu tá impossível. Empresta um pouco disso que tá abundante em ti? POESIA