terça-feira, 17 de maio de 2011

olhos no teto

a lâmpada balançando no corredor é o sol da nossa noite. fecho a porta às minhas costas e vejo tua silhueta suavemente desenhada sob a escuridão amarelecida que aos poucos nos vai envolvendo, nos engolindo com sua cumplicidade pronunciada, o desejo nervoso, saltando dos olhos, correndo solto pelo quarto derrubando a mobília, até que se encontram as duas mãos fingidamente perdidas, dissimuladas, e as pálpebras se fechando calmamente, enquanto as bocas trêmulas, carne desejada, debilidade de movimentos, um furor explodindo continuamente nas veias, o peito guardando a ferocidade do grito revolucionário, da oposição à ordem, do socorro imediato, e na garganta forma-se o sopro incandescente, silêncio molhado de amantes, nossa morte no seio da madrugada, a lua calcinada, deitada no asfalto úmido, braços enlaçados no pescoço, mordidas extasiadas e a dor doce que nos toma de assalto, e finalmente o silêncio dissipado, um grito profundo com o calor de corpos em chamas, um sorriso sincero estampado no rosto, cansaço, suor, satisfação. entre os lençóis, nenhuma palavra, no entanto algo menos ilustrativo, sangue encharcando olhos sonolentos, as cinzas da noite assopradas pelo fim iminente, o fim iminente e os relógios despertadores despertando o dia, cansaço em olheiras fundas, a lembrança sobreviva, mastigada pela rotina e contudo sobreviva, e uma esperança íntima, regozijo, talvez sonhos açucarados no cochilo depois do almoço.

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