terça-feira, 13 de setembro de 2011

sleeping bees

olhos na colcha de cama e um dilema enorme com um cigarro entre os dedos e um café frio na mesa, o vício declarado e a insensatez contínua, a covardia, falta de força e eu digo que vou despedir-me, isso não significa nada, é a minha despedida e não é a primeira nem a última, farei isso cem vezes mais e não cansarei de dizer que acabou, que já não tenho mais motivos, nenhuma necessidade urgente e o café frio esfriando ainda mais, a xícara marcando ternamente minha mesa roubada de madeira velha, hakim bey mandando tchau da esquina com sua barba e o seu cachimbo marrom, olha na minha cara e diz de novo que não me quer, talvez esse seja o melhor remédio, outro tapa, um rasgo que deixe cicatriz, muito sangue pra saciar o meu desejo de escorrer sobre minha própria pele, derreter e me tornar parte de algo mais amplo que apenas esse corpo, o café esfria ainda mais e eu tomo um gole, 27 dias de contenção 27 olhos deitados comigo mexendo-se enquanto durmo, debato-me e luto contra insetos inexistentes pregados no meu corpo em chamas e os olhos dissolvendo-se pegajosos no meu corpo santuário jamais tocado, a lua na janela brilha e diz que pela manhã está tudo bem, pela manhã está tudo bem mas essa noite não dormirei e amanhã de olheiras fundas tatearei no escuro à procura de qualquer tato, língua no muro áspero e eu deixo minha carne por lá, onde estás tu que não te acho, onde a tua cabeça inclinada e os dedos deixados displicentemente sobre a minha boca, escorando-se em dentes antes de caírem pelo meu peito, onde as tuas unhas me marcando no espelho - amanhã eu vejo e é como se eu estivesse contigo outra vez, deitado sobre os olhos (dessa vez inertes) que tanto me atormentam – we walk through fire my love is your flashlight e cego tropeço em meus pés, beijo o chão de terra e levanto com a cara suja, a poesia é de quem precisa dela e quem precisa mais da poesia que o pobre poeta sujo de terra e afundado na lama, quem mais que o desmedido poeta, o horrendo poeta com suas palavras como foice contra o tempo, vertigem em sal ao meio dia torrando no asfalto, tu consegues ver bem como o calor nos deforma ferozmente, trêmulos misturados às faixas de sinalização e nenhum carro para acabar com essa angústia, nenhum anjo para nos carregar de vez ao inferno, asas prateadas cegando os olhos da alma, fogo celestial contra os pecadores inconsequentes, arrastando-se como vermes looking for an angry fix, a geração em branco, beatniks de barba feita e óculos escuros, malditos cheios de bondade e preguiça afundando na cama enquanto o mundo explode além dos limites de seus quartos, um brado terrorista e uma bandeira hasteada, hakim bey sorri lá embaixo, ginsberg envolto em fumaça quebra minha janela com uma pedra, eu estou furioso mas cansado demais para reagir, deixo que a chuva entre pelo ralo e mergulho meu rosto na terra preta com um fósforo aceso em mãos, meu fôlego apagado, meu calor misturando-se a tudo que não me pertence, sou o espelho do teu desespero, da tua desilusão e nem mais um sonho para adocicar meus dias, imaginação castrada, onde as tuas unhas onde os teus cabelos onde a tua a minha vida? eu dançando no teto do quarto como uma mariposa tamborilando meus ouvidos insones.

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