terça-feira, 10 de março de 2009

A madrugada

Gritos produzidos
Na madrugada
Ouvem
E são ouvidos
Na madrugada.

Ecoa o silêncio
Nas paredes
Do meu quarto
No céu da boca
Quebram-se os dentes
Corta-se a língua
E o grito cansa:
Volta pra dentro
Pra gritar
Mais fundo
No peito.

O coração parou
Rasgou-se a garganta.

Sangue há
Em todos os cantos
Em todos os quatro cantos
Do quarto cheio de cantos
Não cantados
Porque o grito
Quebrou os dentes
Cortou a língua
Cansou
E gritou no peito:
Cantou no peito a última canção
Do homem só e sua solidão
Do choro convertido em palavras
Derramadas em papéis.

Suportada a duras penas
A necessidade
De viver.
O sofrimento
E a dor
De existir
Mantinham sempre empunhado
O punhal
Voltado contra a própria alma.

É preciso viver.
Por quê?
É preciso fazer.
O quê?
É preciso ter.
Pra quê?
É preciso ser.
Não é.
É preciso ter vontade
Ter desejo
E só assim não se jogará ao vento
A vida
Uma vida
Uma vida só
Uma vida só vivida.

E eu vou amassando-a
Como fosse uma bola de papel
Para jogar no lixo,
Ao final.

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