quarta-feira, 5 de maio de 2010

Distúrbio

Na minha boca queima o sol de um desejo ancestral. Em seu fervor se perde a inutilidade das palavras – a fala, subjugada, perece na imensidão do silêncio. Seu fogo dilacera diariamente a carne de minhas horas – no alto de sua brigada compulsória, constroi e desconstroi a monotonia de seus dias. Das labaredas alicerçadas na vertigem de uma mudez deliberada, um frio e sangrento inverno foi dissipado – sua neve chorou diante do obsessivo soluço chamejante – se desfez ante a coluna infernal que se erguia em meio ao seu contendor infinito. Na minha boca queima o sol de um desejo ancestral. E o seu fogo fende a barreira do real.