terça-feira, 14 de setembro de 2010

da tua partida

Todo um universo foi construído em tua função. Por ti, para ti: uma arquitetura projetada para que teu abraço durasse cem anos... o crepúsculo em frente ao mar, os guarás, cigarros, o teu beijo doce... de repente, o meu mais belo sonho se desfaz diante dos meus olhos - mãos que me sacodem com ferocidade animal, brutalidade excessiva, cada pedaço do meu mundo se esfacelando contra o meu rosto desfigurado, rasgado por unhas infantis, talvez por pequenas garras de tigre... estou na beira do abismo com os braços abertos, esperando o último sopro que me faça cair numa vertiginosa reconstrução de todo o universo despedaçado, da exaltação da memória, da vida projetada para trás. Debaixo do sol, com os olhos ardendo, recordo ainda as tardes em que passávamos no quarto, juntos, deixando que Distillers abafasse o som de nossos gritos... já não posso escutar Cazuza, sabe, meus olhos se enchem de lágrimas e é sempre bom manter o decoro, tentar não chamar a atenção, mas eles sempre se enchem de lágrimas quando me lembro daquelas noites no Reviver, no quarto com piso de madeira ou no das paredes brancas, deixando Cazuza falar e eu, sussurrando, quase para mim mesmo, minha flor, meu bebê... amor da minha vida... há um tempo atrás eu disse que não queria um amor com limite de velocidade e prazo de validade, tu me respondeste que também não. Alguns dirão que mentimos, nós diremos que não, e assim serão as coisas... agora, te pego em minhas mãos e os cacos daquele mundo construído por minhas palavras e por tua aceitação e começo a sua reconstrução: colo os pedaços e me jogo, me afogo nesse mar de lembranças, deixo que o passado me envolva e me entorpeça e que tu seja o meu Zahir... ai, que saudade... entre lágrimas e soluços, tudo o que posso dizer é eu te amo, depois, uma saudade infinita calará o meu canto e porá o silêncio sobre a mesa e, finalmente, este pássaro que se ergue em vôo nas madrugadas, cantando aos quatro ventos o quanto seu amor é grande, porá-se em silêncio e, num muro qualquer, deixará que se passem, calado, as pessoas, as nuvens, os dias cada vez mais cinzentos...

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