meu dia é engolido por uma onda abrasante de sangue fervido.
tremo pelo frio da solidão que me é imposta,
nego o presente numa constante exaltação de minha memória.
derramo sobre a realidade um líquido corrosivo
e a vejo dissolver-se, vertendo de seu corpo a lembrança envenenada.
esquivo-me de cada pedaço do teto de sombras que desaba sobre mim
e o meu corpo, ainda assim dilacerado, é palco de delírios infames.
deixo que me abrace a onda do destino
e, obstinado rumo à derrota, sinto o doce de um beijo
percorrer-me outra vez os caminhos da pele.
caio de joelhos, humilho-me diante de um senhor inexistente.
sou filho do tempo sem tempo, porque a minha hora é a eternidade
de um único instante inconcebível.
meu sangue sujo foge de minhas veias e mais uma vez estou só
diante desse muro de concreto que se ergue entre duas partes de meu corpo.
com as mãos, acaricio sua textura áspera, enquanto meu rosto
se delicia com a ranhura furiosa de seus espinhos.
a areia de meus sonhos rasga a minha garganta com seu fervor incessante.
engulo a fúria de um desejo chamejante e sou agora o fruto bastardo
de uma árvore calcinada.
enlaça-me o fogo translúcido de uma luz invisível.
e afogo-me nesse mar onde devo munir-me de vida
para lutar contra a treva que deseja engolir-me.
descanso sob a proteção de teus braços
e suave é o derramamento de minhas lágrimas
que caem e secam no chão torrado pelo sol de minha saudade.
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