Dores infinitas
teoria do caos
silêncio de pessoas
vazio existencial;
o muro já não é verde
nem de cimento
no centro
há um oco,
um vazio de sentimento;
a verdade é subjetiva
como a voz
que vem de dentro
calado, estou errado
e minha fala é silêncio.
da fenomenologia à ontologia hermenêutica
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Sobrevivo
Eu anseio
pela dor.
Não a dor
que tempera
E encanta o
fim dos amores
Com suas
lágrimas e soluços
A ecoar no
vasto vazio
do
esquecimento.
Menos ainda
A negra dor
do luto
A nos
lembrar que somos apenas
Um breve
suspiro
Em meio ao
caos, tempestade
De corpos.
Anseio pela
dor da carne:
O corte
profundo
Com seu
emblema de sangue
E terror
- uma
explosão
Na superfície
lunar –
E o grito
que se debruça
Sobre a
tarde:
Elástico
e efêmero.
Findo o
grito,
Findos os
espasmos
Que dissolvem
a carne,
Resta enfim
a certeza:
Sobrevivi,
Sobrevivo.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
doce
Acendi o cigarro, dei o primeiro trago, e então, debruçado sobre o parapeito da janela, bebi um gole de café - o vapor quente subiu e embaçou meus óculos, e naquele momento foi como se de novo eu estivesse na tua varanda, vendo o sol e o dia que nasciam, embriagado pelo amor e por aquela música que faziam as ondas que iam e vinham, como eu mesmo disse pra ti, é o mar respirando, e tu sorriu e me deu um beijo e então eu escrevi um poema sobre um café muito muito doce e os beijos do mar sobre a praia, mas o meu café está terrivelmente amargo, eu o sinto derramar-se sobre minha garganta e então descer, lentamente descer e aquecer meu coração vivo de espasmos de ciúmes e sobretudo de saudade, saudade da tua mão e do teu colo, de tudo aquilo que era o mundo e a vida e que hoje não é mais que lembrança, meu irmão, meus pais, a casa, o quarto, o céu, tu... Não consegui fumar mais, minha consciência pesa uma tonelada, apaguei o cigarro e ouvi lentamente o piano que tocava em algum lugar, ao longe, talvez minha imaginação, lembrei de mozart e de guevara, mas daqui eu não vejo o céu e muito menos as estrelas, prédios e mais prédios me tapam a vista e eu penso que é isso exatamente o que eles querem, matar o eu mais íntimo, a parcela que soube se proteger bastante bem até agora, que ainda está viva e pulula como a última chama da noite, e a noite que acaba de começar e a cidade já morta, apenas os boêmios se sustentam fora de seus casulos, só eles estão prontos para o beijo que a madrugada nos dá entorpecida, um beijo molhado como uma fina chuva que cai e molha nossos ombros, e então aquela chuva quando eu te disse sempre teu, o teu cabelo molhado caindo sobre o teu rosto e eu achava que não haveria nada mais belo, e não há, nunca houve, carregarei a tua cicatriz nas costas como a marca de um chicote que me feria docemente, garrinhas de tigre ou qualquer coisa parecida, o engraçado é que eu falo tudo isso com saudade do que tu nunca foi, afinal eram os meus olhos perdidos em meio a névoa que te confrontavam como se tu fosses meu próprio espelho, eu anjo maternal cuidando de mim mesmo numa alucinação inconsequente, e então perceber como um acordar repentino que tu jamais foi ou será doce como aquele café ao qual atribuí tanto valor, mas exatamente o contrário, o amargo que fica na língua e obriga qualquer um àquelas caretas vergonhosas, e são exatamente os lábios de mel que escondem a língua bifurcada, o teu veneno correndo nas minhas veias, o teu sorriso resplendendo na memória e então a tua imagem real, os telefonemas de todas as doses de todas as noites, os detalhes sobre uma traição que hoje tu negas, as várias fases, as várias faces, e então eu descubro o amor mais puro e simples, sem desejo, sem egoísmo, pura atenção e cuidado com aquela que poderia ser minha filha ou minha irmã, nas minhas costas correndo pelo corredor enquanto teu olhar me segue ao longe, talvez arrependida, talvez amargurada pela tua presente impotência, de qualquer forma quando volto a cabeça ainda consigo te distinguir, com aquela sede e a língua esmagada pelo peso da culpa, agora é a hora, entro numa sala e sou eu com a mulher da minha vida que nunca imaginei, nenhuma paixão, nenhum diabinho cutucando meu peito, apenas um profundo sentimento talvez gasto e já farto de si mesmo, mas conservando nas suas entranhas a pureza que faz sempre um homem acordar mais perto da santidade, mais distante do pecado de cada dia, o sabor do café de manhã cedo, o pão massa grossa quentinho com a manteiga derretendo, uma mordida, duas, são sete da manhã e todos temos que trabalhar, nesse mundo é melhor se manter em pé, e melhor é se manter em pé ao lado de outra pessoa também em pé, de mãos dadas, juntos até a alma, como dois bêbados que caminham abraçados numa rua de piçarra, dois bêbados abraçados, de uma vez por todas e em paz, amém.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Fatídico
Não posso fugir o chão de agulhas e meus pés frágeis. Eu continuo vendo pelo buraco da fechadura se você está lá arrependida, mas sou e será somente eu e minha paranoia nessa noite que promete ter muito mais que horas escuras e besouros zumbindo me chamando para fora da janela. Cada um que passa aqui em baixo é você em potencial, por isso estou sempre alerta para que quando você passe eu esteja perfeitamente escondido atrás das cortinas debaixo das cobertas com o coração estendido como uma língua salivando contra você então eu te olharia e diria que preciso manter de pé o orgulho embora não consiga e teus olhos chorariam os meus mas quem calará a voz daquilo que já silenciou, quem, mas quem dirá com tamanha mudez exatamente aquilo que eu posso e preciso e sobretudo quero ouvir, o teu cabelo esparramado no meu peito enquanto eu e meus devaneios, tua respiração ofegante e tuas mãos perdidas passeando pelo meu corpo enquanto teus olhos baixinho dizem que me ama e eu sei que é verdade, eu sei que não conseguirias mentir para mim com esses olhos tão claros quanto o desejo incontido e o pecado e o delírio e a culpa, sempre a culpa para que eu não durma só, porque dormir só seria dormir bem e esse é um castigo que ainda não me foi dado. Peço perdão mesmo sem saber por quê, por ter mandado aquela carta ou por ter te sorrido envergonhado, talvez, ou por não poder te ter e não poder me ter e precisar conviver com tantas ausências e chorar tantos mortos ainda não morridos, tu um deles, porque agora é tarde e as estrelas já caíram inebriadas sob o pano da noite e o teu sorriso seria a minha única luz mas já é tarde, teu desenho ainda se distingue na minha imaginação como um anjo que para me salvar teria que sacrificar a si mesmo e por isso eu nego a salvação e me condeno a ser impuro, a ser vil a sentir ainda o teu cheiro na minha camisa, na minha cama e em teus dedos caminhando displicentes sobre meu corpo o teu cabelo a tua respiração o teu sorriso, tu, tu, de novo tu que no teu sono me criou e me fez viver, com aquele rostinho tão doce, sorrindo sonhando e no entanto pesadelos mais atrozes que a minha vontade de abrir o teu vestido e te possuir só minha retalhavam tua calma e a um só tempo nos colocávamos na mesma lama em que já estou acostumado a andar, tu que tão pura, tu que tão bela, tu suja da mesma terra que me engasga enquanto tusso e sufoco, tento te cuspir de dentro de mim mas já é tarde, as estrelas deitadas no asfalto úmido da noite em claro porque meus olhos não saberiam fechar sem vislumbrar a tua imagem, sem permanecer nesse tempo em que já não se pode estar, o terreno calcificado do passado, é preciso lidar com a situação da melhor maneira possível, e a melhor maneira possível é resistir ao apelo fácil do suicídio, é ter em mãos uma barra de chocolate e uma garrafa de vinho bem doce, pra simular o teu beijo, o teu beijo amanhã dentro de minhas malas e então jogados no mar como pássaros atirados sobre um rebanho de ilusões que se desfazem em ondas contra os corais. Eu não amo com a obrigação de acertar.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Revolver
Abro os olhos enterrados nervosos na areia da praia.
Meio dia. O sol arde sufoca e o lobisomem uiva na torre mais alta de um castelo de areia que o mar acaba de engolir. Estou só e por toda parte as flores de uma primavera que não veio dançam como borboletas cegas perdidas no balbucio de suas asas. Vampiros nadando no aquário do meu quarto banhando a lua que goteja cal na ponta da minha língua rígida estendida como uma ponte para a morte e lentamente a luz desenha no meu peito a sombra de mim mesmo quando eu já não teria sido, ou será que... Afunda a cabeça na lama, desdenha o teu corpo diamante olha só como brilha, olha, a carne brilha o fátuo brilho da impermanência, é fácil deixar-se enganar, toma esse livro em tuas mãos e folheia as tuas páginas de ócio, meus desejos dissolvidos nas algas que pouco a pouco enroscam nos teus dedos para não soltar nunca mais. Permita-me, senhor, levar o teu olho de rubi como recordação do pirata afogado na pia de sua própria casa entre baratas que escorriam pelo ralo seus corpos gentis e pedaços miúdos de ouro que em verdade eram o sol se pondo no horizonte em chamas, uma bela imagem para apreciar antes da morte, sem dúvidas o senhor foi condecorado com o louro do paraíso celeste, mas como o senhor me diz que o paraíso é pueril e indigesto, começo a achar que então ninguém tem mesmo sorte e estamos todos condenados a viver e reviver nosso inferno cada dia da semana. Estamos tão confortáveis deitados numa cama de espinhos que eu te abraço como se os tempos fossem outros e eles ainda não tivessem chegado para marcar com sua presença nossos passos no asfalto pegajoso, porque eles vieram disseminar a minha a tua a nossa culpa e nos chicoteiam com olhos de anjos e carícias de amantes, rasgando a cueca velha na tentativa de... pintaram um retrato, imagina, um retrato enorme de mim mesmo e como castigo me fizeram mirá-lo fixamente e então eu já não sabia se eu era eu ou se era o retrato ou se nenhum dos dois, lancei mão de minhas correntes e tentei voar com asas de concreto mas caí e esfarelei minha cara ali mesmo no chão da rua, eles mijaram no começo da ladeira e eu via lentamente o destino inevitável chocar-se contra o meu rosto. No entanto, foi nas feridas abertas e no sangue manchando o peito que descobri quem era e pude enfim me levantar contra os carecas de chapeuzinho, crianças diabólicas abanando suas cruzes e cantando de mãos juntas, tão bonitas, por que foi que nós fugimos de lá mesmo? faz tanto tempo... eu já nem me lembro... Mas é melhor ficar do jeito que está, vista-se que temos o mundo só para nós. Então eu beijo as costas da mão que tu estendes para mim, cravo os meus olhos nos teus e percebo que nem todos estão condenados ao inferno interminável, que talvez tu e eu sejamos os dois órfãos por quem olha o Pai complacente, sim, não sei eu, mas tu tens algo de angelical, algo que não se perdeu na queda e eu não quero que se perca jamais, o meu pedaço de nuvem onde sonho tranquilo enquanto corremos descalços com saudade de casa... Por isso eu te peço olha por mim, meu bem, olha, que teus olhos derramam a sede da bondade do Pai por onde quer que cantem.
Meio dia. O sol arde sufoca e o lobisomem uiva na torre mais alta de um castelo de areia que o mar acaba de engolir. Estou só e por toda parte as flores de uma primavera que não veio dançam como borboletas cegas perdidas no balbucio de suas asas. Vampiros nadando no aquário do meu quarto banhando a lua que goteja cal na ponta da minha língua rígida estendida como uma ponte para a morte e lentamente a luz desenha no meu peito a sombra de mim mesmo quando eu já não teria sido, ou será que... Afunda a cabeça na lama, desdenha o teu corpo diamante olha só como brilha, olha, a carne brilha o fátuo brilho da impermanência, é fácil deixar-se enganar, toma esse livro em tuas mãos e folheia as tuas páginas de ócio, meus desejos dissolvidos nas algas que pouco a pouco enroscam nos teus dedos para não soltar nunca mais. Permita-me, senhor, levar o teu olho de rubi como recordação do pirata afogado na pia de sua própria casa entre baratas que escorriam pelo ralo seus corpos gentis e pedaços miúdos de ouro que em verdade eram o sol se pondo no horizonte em chamas, uma bela imagem para apreciar antes da morte, sem dúvidas o senhor foi condecorado com o louro do paraíso celeste, mas como o senhor me diz que o paraíso é pueril e indigesto, começo a achar que então ninguém tem mesmo sorte e estamos todos condenados a viver e reviver nosso inferno cada dia da semana. Estamos tão confortáveis deitados numa cama de espinhos que eu te abraço como se os tempos fossem outros e eles ainda não tivessem chegado para marcar com sua presença nossos passos no asfalto pegajoso, porque eles vieram disseminar a minha a tua a nossa culpa e nos chicoteiam com olhos de anjos e carícias de amantes, rasgando a cueca velha na tentativa de... pintaram um retrato, imagina, um retrato enorme de mim mesmo e como castigo me fizeram mirá-lo fixamente e então eu já não sabia se eu era eu ou se era o retrato ou se nenhum dos dois, lancei mão de minhas correntes e tentei voar com asas de concreto mas caí e esfarelei minha cara ali mesmo no chão da rua, eles mijaram no começo da ladeira e eu via lentamente o destino inevitável chocar-se contra o meu rosto. No entanto, foi nas feridas abertas e no sangue manchando o peito que descobri quem era e pude enfim me levantar contra os carecas de chapeuzinho, crianças diabólicas abanando suas cruzes e cantando de mãos juntas, tão bonitas, por que foi que nós fugimos de lá mesmo? faz tanto tempo... eu já nem me lembro... Mas é melhor ficar do jeito que está, vista-se que temos o mundo só para nós. Então eu beijo as costas da mão que tu estendes para mim, cravo os meus olhos nos teus e percebo que nem todos estão condenados ao inferno interminável, que talvez tu e eu sejamos os dois órfãos por quem olha o Pai complacente, sim, não sei eu, mas tu tens algo de angelical, algo que não se perdeu na queda e eu não quero que se perca jamais, o meu pedaço de nuvem onde sonho tranquilo enquanto corremos descalços com saudade de casa... Por isso eu te peço olha por mim, meu bem, olha, que teus olhos derramam a sede da bondade do Pai por onde quer que cantem.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Talvez
Por vezes, estivera eu naquele quarto onde era impossível manter a camisa no corpo, porque o calor era excessivo e o suor inevitável. Sentado num banco de madeira, mantinha por horas as costas dolorosamente curvadas, com os cotovelos apoiados sobre a mesa em que repousava um livro aberto e uma luminária que ardia incessantemente, dia ou noite, liberando um cheiro acre e revelando a poeira que circundava de forma minuciosa todos os objetos presentes. Ali, entre estantes de livros devorados pelas traças, sempre solitário e escuso, na escuridão de uma sala que não via jamais o sol, degustei as horas de anos que passaram sem mostrar suas caras, já que meu tempo não era medido com relógios e calendários, mas com as necessidades de dormir e comer e ler. Também o ambiente, visivelmente descuidado, sujo e quente, não me incomodava. No fundo, acredito que jamais estivera realmente ali, mas imerso nos mundos de Kafka e Cortázar, Rosa, Borges e Grass. Só mais tarde conheci García Marques e a sua imensa batalha de vida contra a solidão – e a solidão, eu acreditava que a aceitava da forma mais natural possível, nem passiva nem instintivamente, apenas a aceitava como condição obrigatória do meu presente, e que melhor era aproveitá-la que combatê-la, pois meus recursos eu guardava para lutar outras guerras: as de Aureliano Buendía pelo seu próprio orgulho; as de Ché, que fumava um cigarro para fazer as pazes com a vida e deleitava-se imaginando Mozart, deitado na grama e banhado pela noite estrelada de sangue. E pensava, sempre antes de dormir, que teria desperdiçado meu tempo, enquanto meu irmão ganhava altura e peso e perdia cada vez mais rápido os traços infantis. E me arrependia de não tê-lo colocado ao meu lado para contar-lhe do que se tratavam tantas páginas com letras onde se escondiam vidas e passados e amores: eu, ensimesmado em um quarto escuro que do sol só sabia o calor, quase satisfeito em minha solidão quase deliberada, arrependendia-me por não aproveitar a infância do meu irmão, que se desgastava continuamente e polia o rosto e os cabelos com a maturidade dos anos. Ah, e quantas noites chorei com soluços abafados pelo travesseiro, afundando o rosto no pano molhado de lágrimas e pensando que, talvez, estivesse a perder o melhor que me ofereciam as vozes e o mundo, e que meus dias passados debruçado sobre livros eram dias de ficção, também passados debruçado sobre a matéria impalpável da irrealidade, e me iludia com a pretensão do esquizofrênico, e criava para mim escudos de vidro que se quebravam ao primeiro contato com mamãe, que se dissolviam no assovio de Rodrigo e nas gargalhadas de papai. E não estive satisfeito. Saí do quarto, deixei para sempre os livros que foram meus únicos companheiros de adolescência, e, no entanto, não me entreguei ao carinho que me guardavam meus pais e meu irmão, mas me distanciei ainda mais deles e do que eles podiam me dar, e viajei três mil quilômetros para ser o mesmo Rômulo que perdia o dia e se arrependia de tê-lo feito à noite, o mesmo que sentia a dor de todos juntos e a imaginava como um apelo à santidade, e que perdia a doçura de seu espírito na pornografia e em relações desnecessárias, supérfluas, em que se quebrantava de maneira irremediável o ardor da paixão e a capacidade para amar verdadeiramente. Eu não mudei nada, e ainda choro à noite por estar invariavelmente só; e torturo minha mente, espremendo-a entre o pragmatismo ao qual me obriga o mundo e a indolência e beleza de que necessita minha alma. Possuo CEP, RG, CPF – e, contudo, jamais soube realmente onde estou e quem sou. Talvez eu seja o paraíso e o inferno inescrutáveis.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
três parágrafos aparentemente desconexos
Em branco, de pé num movimento elástico de dança, secando os pés na beira de pura água de pura vida, tanto azul envolvendo-a e os cabelos gritando ao contato de estrelas – estou afogado na tua respiração, teus seios enrolados escondem atrás de si o prazer que tu me negas também com as pernas e braços fechados, indicando um caminho contrário ao teu, sugerindo um desvio de ti, do teu corpo que tanto me faz saudade, do teu carinho de mãe no meu cabelo perdido no tempo, nós dois perdidos no tempo e eu nos recordo com os olhos do espectador que não julga e não quer julgar: te quero hoje como sempre quis: muito.
Acordo, meus óculos estão afundados em sal, meus olhos queimam e gemem pela luz inoportuna que invade o quarto, o caos instalou-se por aqui e minhas velas acabaram, deito no chão com o ouvido colado ao assoalho para tentar escutar a respiração do mundo, mas o que há são lojas no andar de baixo, e os barulhos que me sobem e me arrepiam de medo são só a declaração escatológica do capitalismo gordo e desenfreado, vozes que entoam cantos-slogans e corpos que são a propaganda do próprio decadentismo.
O zelador do prédio certa vez me disse que é só um limpador de chão e por isso não iria falar com a garota do 106, pensei por um instante que ela também talvez ache isso e, à tentativa de qualquer espécie de contato, seria repelido com a crueldade da delicadeza que é pertinente ao trejeito de algumas mulheres que se põe acima delas próprias, assumindo uma postura pretensamente endeusada, pisando nossas costelas com seus saltos de quinze centímetros e nos fuzilando com olhares de fogo puro .
Entristeci. O Paraíba é um cara bacana.
Acordo, meus óculos estão afundados em sal, meus olhos queimam e gemem pela luz inoportuna que invade o quarto, o caos instalou-se por aqui e minhas velas acabaram, deito no chão com o ouvido colado ao assoalho para tentar escutar a respiração do mundo, mas o que há são lojas no andar de baixo, e os barulhos que me sobem e me arrepiam de medo são só a declaração escatológica do capitalismo gordo e desenfreado, vozes que entoam cantos-slogans e corpos que são a propaganda do próprio decadentismo.
O zelador do prédio certa vez me disse que é só um limpador de chão e por isso não iria falar com a garota do 106, pensei por um instante que ela também talvez ache isso e, à tentativa de qualquer espécie de contato, seria repelido com a crueldade da delicadeza que é pertinente ao trejeito de algumas mulheres que se põe acima delas próprias, assumindo uma postura pretensamente endeusada, pisando nossas costelas com seus saltos de quinze centímetros e nos fuzilando com olhares de fogo puro .
Entristeci. O Paraíba é um cara bacana.
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